Havia uma
vez um lavrador generoso e muito trabalhador que tinha vários
filhos, todos preguiçosos e cheios de cobiça. Em seu leito
de morte, o velho lavrador lhes disse que encontrariam seu tesouro se
viessem a cavar num lugar determinado. Assim que o lavrador morreu,
seus filhos correram para o campo, que escavaram de ponta a ponta, com
ânsia e desespero crescentes ao não encontrar o ouro no
trecho indicado.
Não encontraram o que buscavam. Imaginando então que por
ser muito generoso, o pai distribuíra seu ouro em vida, desistiram
da busca. Por fim, pensaram que, já que a terra fora revolvida,
poderiam plantar ali algum cereal. Assim plantaram trigo, que cresceu
e deu abundante safra. Eles venderam o produto da colheita e tiveram
um ano de prosperidade.
Concluída a colheita, os filhos do lavrador pensaram novamente
na remota possibilidade de que o ouro talvez lhes tivesse passado despercebido.
E foram cavar de novo em suas terras, mas sem resultado.
Transcorridos alguns anos eles acostumaram-se a semear e colher, seguindo
o curso das estações, algo que não tinham aprendido
antes.
Foi
então que compreenderam a razão pela qual seu pai usara
aquele expediente para discipliná-los, e se converteram em lavradores
honestos e contentes com sua condição. Finalmente se deram
conta de que possuíam riqueza suficiente para não precisarem
se interessar pelo tesouro escondido.
Dá-se o mesmo com o ensinamento acerca da maneira de entender
o destino humano e o significado da vida. O professor, ao defrontar-se
com a impaciência, a confusão e ansiedade dos estudantes,
deve encaminhá-los para uma atividade que ele sabe ser instrutiva
e benéfica para eles, mas cuja verdadeira função
e objetivo com frequência lhes permanecem ocultos devido a sua
própria inexperiência.
Extraído
de "Histórias dos Dervixes"
Idries
Shah
Nova Fronteira 1976
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