Ibotity tinha subido numa árvore quando o vento soprou a árvore;
a árvore se partiu, Ibotity caiu e quebrou a perna.
-
A árvore é forte porque quebrou minha perna – disse.
-
O vento é mais forte do que eu – disse a árvore.
Mas
o vento disse que a colina era mais forte, já que ela podia parar
o vento. Ibotity, é claro, pensou que a força estava na
colina, porque ela podia parar o vento, o vento que partiu a árvore,
a arvore que quebrou sua perna.
-
Não – disse a colina, enquanto explicava que o rato era
mais forte, porque podia esburacar a colina.
-
Eu posso ser morto pelo gato – contestou o rato.
E
assim Ibotity pensou que o gato deveria ser o mais forte.
-
De jeito nenhum – disse o gato, explicando que poderia ser apanhado
por uma corda.
Ibotity
achou que a corda devia ser a coisa mais forte. A corda, porém,
explicou que podia ser cortada pelo ferro. Portanto o ferro era mais
forte. O ferro, por sua vez, negou ser o mais forte, já que podia
ser derretido pelo fogo.
Ibotity
então pensou que o fogo devia ser o mais forte, porque ele derretia
o ferro, o ferro que cortava a corda, a corda que prendia o gato, o
gato que caçava o rato, o rato que esburacava a colina, a colina
que parava o vento, o vento que partiu a árvore que quebrou a
perna de Ibotity.
O
fogo disse que era a água era mais forte. A água declarou
que a canoa era muito mais forte, porque sulcava a água. Mas
a canoa foi superada pela rocha, e a rocha pelo homem, e o homem pelo
Mago, e o mago pela prova do veneno por Deus. Assim, Deus é mais
forte de que tudo.
Ibotity
pensou então que Deus podia vencer a prova que imobilizava o
mago, que dominava o homem, que quebrava a pedra, que derrotava a canoa,
que fendia a água, que apagava o fogo, que fundia o ferro, que
partia a corda, que prendia o gato, que matava o rato, que esburacava
a colina, que parava o vento que rachava a árvore que quebrou
a perna de Ibotity.
Retirado
do Livro "Histórias da Tradição Sufi"
– Rio de Janeiro: Edições Dervish – Instituto
Tarika, 1993. |