Era uma vez um homem que estava dormindo. Enquanto dormia engoliu um
animal venenoso que lhe ficou entalado na garganta.
Levantou-se
numa espécie de delírio e começou a tossir e a
se sacudir, tentando livrar-se de um mal que absolutamente não
compreendia.
Um cavaleiro
que passava por ali naquele momento viu, num relance, tudo o que havia
acontecido. Imediatamente ergueu o chicote e começou a açoitar
o homem, golpeando-o sem piedade, até que ficou negro e azulado.
0 homem,
meio enlouquecido, tentou gritar-lhe que parasse, mas não conseguia
fazer com que as palavras saíssem. Enquanto corria, ou se espojava
no chão, ou se revirava, sempre recebia uma chuva de golpes implacáveis.
0 cavaleiro
não dizia uma palavra.
Finalmente,
como resultado de uma terrível náusea, o animal venenoso
foi vomitado pelo ressentido estômago do homem aflito. 0 animal
caiu ao chão e estrebuchou. 0 cavaleiro, sem uma palavra, esporeou
o cavalo e partiu.
Somente
então o homem percebeu que aquilo que lhe parecera um assalto
injustificado, havia sido, na verdade, a única forma de se livrar
do animal antes que o veneno fosse injetado em seu sangue.
Este tipo
de coisa não acontece todos os dias, nem a todas as pessoas,
nem todo o tempo. Mas, às vezes, há na vida de todas as
pessoas ocasiões em que se pode estar recebendo ajuda embora
se acredite que se esteja recebendo um malefício, e vice-versa.
No ensinamento superior, o mestre não se exime de um dever tão
penoso como o do cavaleiro em nossa parábola; como tampouco se
pode esperar que ele seja invariavelmente duro.
Extraído
de 'O Sufismo no Ocidente'
Edições Dervish 1988
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